terça-feira, 19 de abril de 2011

pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. não grite comigo que tenho o péssimo hábito de revidar. minta sobre a minha nocauteante beleza. tenha vida própria, me faça sentir saudades. conte umas coisas que me façam rir. não seja preconceituoso, não perca tempo cultivando esse tipo de herança dos seus pais. viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. eu saio em conta, você não gastará muito comigo. acredite nas verdades que digo e nas mentiras - elas serão raras e sempre por uma boa causa. respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando eu chamar e não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada (então fique comigo quando eu chorar, combinado?). seja mais forte que eu e menos altruísta. não se vista tão bem, gosto de camisas pra fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelo, os olhos e um joelho esfolado. você tem que se esfolar às vezes, mesmo na sua idade. leia, escolha seus próprios livros, releia-os. odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isso é coisa de gente triste. não seja escravo da televisão, nem xiíta contra. nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. invente um papel pra você que ainda não tenha sido preenchido e o inverta às vezes, me enlouqueça uma vez por mês, mas me faça uma louca boa, uma louca que ache graça e tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca. goste de música e de sexo, goste de um esporte não muito banal. não invente de querer muitos filhos, me carregar pra missa, apresentar pra família, isso a gente vê depois, se calhar. deixa eu dirigir seu carro, aquele carro que você adora. quero ver você nervoso, inquieto. olhe para outras mulheres. tenha amigos e digam muita bobagem juntos. me conte seus segredos, me faça massagem nas costas. não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções, me rapte. se nada disso funcionar, experimente me amar.
Martha Medeiros

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